quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A Decisão Certa

Hoje, li um artigo em um blog de assuntos relacionados à defesa, que explicava que o acidente que matou o presidente da Polônia, a primeira dama, e mais 95 altos dirigentes daquele país, em abril de 2010, foi em função da pressão exercida por alguns passageiros sobre os pilotos  (leia o artigo aqui).

Lembro-me que o acidente aconteceu após a quarta tentativa dos pilotos de aterrissar em um aeródromo na Rússia em condições meteorológicas precárias, em vez de desviarem o
avião para outra pista. O avião com a delegação polonesa se dirigia à uma localidade russa na qual houve um massacre de soldados poloneses pelos russos na segunda guerra, para uma homenagem aos soldados mortos. Na ocasião comentou-se que os controladores do vôo russos recomendaram que o avião desviasse, mas aparentemente isto atrasaria por horas a homenagem e houve pressão por parte dos passageiros ilustres sobre os pilotos para aterrissar de qualquer maneira; o saldo foi de 95 pessoas mortas, entre elas o presidente, vice-presidente, primeira dama, chefe do estado maior, vice chanceler, presidente do banco nacional, vice líder da câmara e outros... a nata do governo Polonês, perdida em um momento, e agora se sabe, por uma vaidade ou pressa.

O que teria passado pela cabeça dos líderes que ordenaram que os pilotos pousassem de qualquer maneira? Seria uma humilhação o avião não ser capaz de pousar? Isto mostraria fraqueza diante dos russos, eterno e mais forte rival? Ou mesmo a pressão, a inflexibilidade quanto à homenagem? O que valeria o risco de 95 vidas, grande parte delas líderes valiosos que se levou uma geração para formar?



E quanto aos pilotos? Que tipo de conseqüências os pilotos sofreriam ao se recusar a pousar naquelas condições? as carreiras encerradas e as vidas preservadas? Como saber?


Talvez nunca saibamos em detalhes o que motivou a pressão sobre os pilotos, mas podemos dizer, com pesar, mas segurança que lideres e liderados erraram, e isto lhes custou a vida.


Erraram os pilotos por não se posicionarem corretamente como profissionais e enfrentarem as conseqüências de suas decisões.
Erraram os líderes que não confiaram nem respeitaram seus comandados em assuntos nos quais não eram os especialistas... e tantas vidas foram sacrificadas por isto.


Inevitável não divagar e extrapolar esta situação para o mundinho profissional, tão menor, mas tão parecido, não é?


Quantas carreiras interrompidas por uma demonstração de força de um líder diante de seus funcionários ou fornecedor, ou cliente, quando não se respeita o especialista competente, que se posiciona corretamente, quantos especialistas que dobram seu parecer à vontades alheias e se tornam amargurados pelo resto de suas carreiras; e quantos "acidentes" que poderiam ser evitados quando lider e especialista agem de forma profissional, ética e transparente: Recalls, construções que caem, transações que geram insatisfações, processos, acidentes, mortes, tristeza e dor, que poderiam ser evitados.


O líder tem como obrigação contratar e até um determinado ponto, formar, gestores e especialistas competentes abaixo de si. Ele nunca saberá tudo sobre todos os assuntos, e para isto deve aprender e se disciplinar para contratar e reter talentos em suas áreas de especialidade, mas também ouvir e respeitar suas opiniões. O ônus da decisão é do líder, mas se este não confia nos pareceres de seus comandados em assuntos eminentemente técnicos, como o caso sobre o qual estamos discutindo, os riscos de problemas ou mesmo tragédias aumenta consideravelmente.


Líderes não vão longe sem uma equipe competente atrás de si.


Diante disto deixo com humildade um recado aos lideres e subordinados que me lêem, até por ter vivenciado ambos os lados e hoje vê-los também de fora como consultor.


Líder: Contrate especialistas nos quais confia, prepare-os ou troque-os. Você deve ter gente competente abaixo de si. Por último, mas não menos importante, na próxima vez em que pressionar o seu subordinado especialista para resolver algo muito complexo, que envolva muito dinheiro, ou muita responsabilidade em qualquer área, pense duas vezes sobre até que ponto sua vaidade ou seus grandes planos o estão fazendo cruzar a linha do razoável. Reflita sobre até onde sua autoconfiança está elevando o risco sobre o processo ou transação a níveis que o tornam um "acidente pedindo para acontecer", e ignorando o parecer de um técnico competente. Afinal, como chefe a última palavra pode ser sua, e a responsabilidade sobre as conseqüências também.


Subordinado: Se você sabe o que está fazendo em sua especialidade, posicione-se e tome a decisão certa. Não trabalhe pra agradar os outros nem seu chefe a qualquer custo. Dê a ele o parecer correto. Trabalhe para ser o melhor em sua especialidade e esteja, desde já, disposto a assumir responsabilidade sobre o que faz. Seja qual for a conseqüência.


Sua carreira em uma determinada área pode até acabar um dia, mas sua consciência será leve, e seus vôos, mesmo em outra área, serão altos e seguros. Gente que presta sempre será necessária.


Abraços


Farina